domingo, 23 de janeiro de 2011

Miomas Uterinos

O que são miomas?

Miomas são tumores benignos (não-cancerosos) dos músculos do útero. 
Os miomas são extremamente comuns, sendo estimado que afetam uma em cada cinco mulheres em idade fértil. Aproximadamente 20% das mulheres entre 20 e 30 anos, 30% entre 30 e 40 anos e 40% entre 40 e 50 anos apresentam miomas.
Os miomas podem apresentar variações quanto ao tamanho e crescem lentamente. Não é clara a causa dos miomas, mas sabe-se que seu desenvolvimento depende do hormônio feminino estrógeno. Em geral, os miomas param de crescer e diminuem na menopausa, quando os níveis de estrógeno se reduzem.

Quais são os sintomas?

         Os miomas podem não causar nenhum sintoma. Eles podem, por exemplo, ser descobertos por acaso durante um exame ginecológico de rotina.
         Algumas mulheres, todavia, podem apresentar sangramento excessivo durante a menstruação ou sangramento irregular, fatos que podem levar à anemia.
         Os miomas de maior tamanho podem pressionar os órgãos à sua volta, como a bexiga ou intestino, provocando sintomas como dificuldade de urinar ou, algumas vezes, necessidade de urinar freqüentemente.
          Os miomas também podem causar certo desconforto, o que significa desde uma leve dor nas costas até fortes dores em baixo ventre.
          A gravidade dos sintomas está relacionada ao tamanho, número e localização dos miomas.
         Pode haver, algumas vezes, uma associação entre miomas e infertilidade (impossibilidade de engravidar).
         Caso você tenha miomas, deve discutir o tratamento com seu médico antes de engravidar.

Quais as opções de tratamento?

Alívio dos sintomas.

         Se os miomas são pequenos e não causam desconforto, seu médico poderá concluir que não há necessidade de tratamento, recomendando somente exames de acompanhamento. Caso você esteja grávida, provavelmente seu médico vai prescrever analgésicos e solicitar que seja feito um controle mais cuidadoso durante a gestação.
         Para as mulheres que apresentam sintomas como dor ou sangramento menstrual excessivo devido aos miomas, uma das opções é o tratamento hormonal com substâncias como a progesterona.
          O organismo, quando recebe doses elevadas de progesterona, reage como na gravidez, interrompendo a menstruação.
          Os efeitos colaterais são semelhantes aos sintomas que ocorrem antes da menstruação, como retenção de água (inchaço) e, eventualmente, alteração de humor.

Cirurgia

         As cirurgias feitas para retirar os miomas são, em geral, a miomectomia, que é a retirada do(os) mioma(s) e a histerectomia, que é a retirada completa do útero.
Para mulheres mais jovens que queiram manter a capacidade de engravidar, a miomectomia pode ser o procedimento de escolha. Razões psicológicas podem levar as mulheres a decidir por não remover o útero.
Os miomas de localização subserosa (camada externa) podem ser extirpados tanto por laparotomia (abertura do abdômen por cirurgia convencional) quanto por videolaparoscopia (cirurgia com câmera,sem abertura do abdome). Os miomas submucosos (camada interna), têm na videohisteroscopia a solução ideal: conservadora e pouco traumática.
         Uma vez que o útero ainda permanece intacto, existirá sempre a possibilidade de surgirem novos miomas. A histerectomia é, com freqüência, recomendada para mulheres mais velhas que já tenham constituído família ou não desejam ter filhos.
         A histerectomia pode ser realizada tanto por via vaginal como através do abdome, dependendo do que seu médico achar mais apropriado.

Terapia Hormonal Suplementar

o uso de medicamentos tem resultado temporário ou ineficiente; cessado o efeito das drogas, os miomas voltam a crescer e os sintomas reaparecem em poucos meses.
         Uma nova classe de medicamentos conhecida como análogos do LHRH é utilizada como auxílio no preparo da cirurgia com miomas.
         Os análogos do LHRH provocam a quase completa interrupção da eliminação de estrógeno pelos ovários.
         O resultado disso é que os miomas que são dependentes dos estrógenos diminuem de tamanho, o que pode tornar a cirurgia mais simples e rápida. Pode também oferecer maior flexibilidade na escolha da data de realização do procedimento cirúrgico.
         Além do mais, com a interrupção da menstruação, as mulheres que apresentam sangramento muito intenso têm tempo para se fortalecer e melhorar da anemia, para que estejam em melhores condições para cirurgia. Como a cirurgia requer uma incisão menor após o uso do análogo do LHRH, há a probabilidade da redução da perda sanguínea, tornando o pós operatório mais tranqüilo.
         Como os miomas voltam a aumentar de tamanho com a parada da análogo LHRH, eses agentes não são indicados para o uso a longo prazo, mas sim para uso antes da cirurgia. Os efeitos colaterais dos análogos do LHRH incluem sintomas da menopausa, como ondas de calor, sudorese, ressecamento vaginal e perda de cálcio dos ossos, que são na maior parte das vezes reversíveis.

Tratamentos alternativos

A-  Ultra-som de alta intensidade guiado por ressonancia magnética

1. O que é o ExAblate®2000?

Um tratamento não invasivo para miomas que combina o exame de RM com o ultra-som de alta intensidade para tratar tumores sem a necessidade de incisão (cortes) ou hospitalização. Atualmente é utilizado em mais de 50 centros médicos de referência por todo o mundo (Estados Unidos, Europa, Ásia) e mais de 3.500 pacientes já foram tratadas com sucesso. O

2. O que a paciente sente durante o tratamento?

As pacientes permanecem conscientes, podendo se comunicar com o médico durante todo o tratamento. Recebe uma sedação leve e muitas relatam apenas a sensação de calor no abdome durante o procedimento.

3. Quanto tempo dura o tratamento?

De 2 a 3 horas, dependendo do tamanho do mioma.

4. Quanto tempo depois do tratamento a paciente retorna às atividades normais?

Nos tratamentos já realizados, em média de 1 e 2 dias. Dependendo dos sintomas iniciais, a maioria das pacientes relata alívio dos sintomas provocados pelos miomas após 3 meses do tratamento.

5. O que esperar do tratamento?

Dependendo dos sintomas iniciais, a maioria das pacientes relata alívio dos sintomas provocados pelos miomas, nas primeiras semanas após o tratamento. A melhoria é gradual e usualmente se intensifica após os 3 meses do tratamento. A redução do volume do mioma acontece em um prazo mais longo.

6. O mioma pode retornar após o tratamento?

O mioma tratado com o ultra-som guiado por RM não cresce novamente, mas os não tratados ou novos miomas podem crescer ou surgir.

7. Quais os riscos desse procedimento?

Existem riscos que incluem: queimadura da pele, dor lombar ou nas pernas, cólicas abdominais, náuseas, febre, secreção vaginal e infecção urinária. A incidência dessas complicações é relativamente baixa. Existe também a possibilidade do tratamento não ser bem sucedido no alívio dos sintomas ou, apesar do resultado positivo inicial, outros miomas crescerem e necessitarem de tratamento. Isso é verdadeiro para todos os outros tipos de tratamento para miomas, exceto a histerectomia.

B- Embolização da artéria uterina

A embolização arterial vem sendo praticada desde 1980 como tratamento de certas hemorragias genitais resistentes. A partir de 1989, passou a ser também um tratamento não cirúrgico específico para os miomas uterinos.
Trata-se de procedimento minimamente invasivo. Seu objetivo é interromper a circulação sangüínea que nutre os miomas, de modo a resolver o problema de forma rápida e duradoura, e propiciar a preservação do útero e  fertilidade.
Esta perspectiva conservadora encontra importante eco e simpatia na população feminina, graças à possibilidade potencial de aliviar os sintomas sem a perda do órgão matriz, que tem tanto simbolismo para sua feminilidade.


RESULTADOS

Nos Estados Unidos e na Europa já foram tratadas milhares de pacientes com este método (acima de 50.000). No Brasil há experiência de centenas de casos e os resultados são semelhantes aos obtidos nos outros centros do mundo.
Após o primeiro mês do tratamento, 90% das pacientes já apresentaram melhora dos sintomas; e 95%, após três meses.Os primeiros sintomas que melhoram dramaticamente são a hemorragia e a dor, já no primeiro período menstrual pós-embolização. Por isso, verifica-se, alto índice de satisfação e de recomendação para outras pacientes.
A diminuição do útero e dos nódulos de mioma se faz gradativamente, obtendo-se a maior resposta após os 6 primeiros meses, quando encontramos uma redução de 50 a 70%. Em alguns casos esta diminuição é maior, podendo chegar a 75%.
Os miomas não desaparecem por completo: eles sofrem um processo de atrofia e calcificação. Tornam-se assintomáticos, ou seja, não causam mais problemas, e param definitivamente de crescer. Sabe-se que os miomas podem continuar diminuindo de tamanho até 2 anos após a embolização. Não há registro de casos nos quais os miomas voltaram a crescer ou de aparecimento de novos nódulos. Outros pequenos miomas eventualmente existentes, que poderiam crescer no futuro, são também atingidos pela embolização e sofrem a mesma involução.

VANTAGENS
Em relação à retirada cirúrgica dos nódulos:
·menor duração do procedimento, menor sangramento intra-operatório, menor risco de complicações
·menor prazo de recuperação da paciente
·incisão muito pequena: a cicatriz é mínima
·preservação estrutural útero: a retirada cirúrgica de múltiplos miomas pode provocar fragilidade na parede muscular do útero, gerando um risco de deformação do órgão, prejudicial, inclusive, a uma futura gravidez.
Em relação à retirada do útero, tanto a embolização quanto a retirada cirúrgica dos nódulos oferecem vantagens: não apenas a preservação da fertilidade, mas também evita-se os vários efeitos negativos da histerectomia.

sábado, 22 de janeiro de 2011

CÂNCER DE MAMA. DESAFIO DO MUNDO MODERNO

            Recentemente a revista TIME publicou interessante artigo sobre o aumento global da incidencia de câncer de mama. Doença que foi sempre mais comum em países ocidentais, passou a se frequentemente diagnosticada nos países orientais e, mesmo, africanos. Estima-se que serão diagnosticados 1.500.000 novos casos no mundo em 2011.
            No Brasil serão 49.000 casos, um a cada 11 minutos, sendo a maior prevalencia nas regiões sul e sudeste. Há também um aumento em mulheres jovens.
            Câncer de mama é uma doença de origem multifatorial. Estão envolvidos a predisposição genética, estilo de vida e fatores ambientais. As células mamárias e seu material genético estão expostas, continuamente, a fatores agressores externos como vírus, irradiação e substâncias tóxicas ambientais ( xenobióticos). Eles são capazes de induzir mutações no DNA celular, mas felizmente há mecanismos reparadores ( gens supressores) que restabelecem a integridade genética. Quando ocorrem mutações irreversíveis, o processo de malignização se inicia. Condições organicas como hormonios e sistema imunológico podem frear ou promover o crescimento destas células alteradas e, por fim, favorecer sua disseminação para outros orgãos.
            A grande maioria dos casos (75%) de câncer de mama não tem histórico familiar. São chamados de esporádicos. Em 5% das pacientes há mutações dos gens BRCA1 e BRCA2 que conferem a estas famílias um risco bem elevado de desenvolvimento de novos casos.
            Xenobióticos são substancias presentes no meio ambiente e que determinam danos genéticos. Nesta categoria estão os agrotóxicos e poluentes químicos que apresentam  propriedades bioquímicas semelhantes ao estrogênio ( Hormonio feminino), que ocasionam um estímulo hormonal adicional.
            A evolução da sociedade moderna promoveu uma série de mudanças no corportamento feminino com repercussões biológicas, tais como: primeira menstruação mais precoce, menor número de gestações e tardias, menor tempo de amamentação, menopausa adiada. Todas estas condições levaram a mulher do século XIX que menstruava, em média, 50 vezes durante a vida, à mulher moderna que costuma ter 400 a 450 episódios. Estes ciclos contínuos promovem um bombardeio hormonal às mamas que leva a alterações proliferativas. A esta condição soma-se o fato que a mama só atinge sua maturidade após a primeira gestação completa. As mamas imaturas são mais suscetíveis a fatores carcinogênicos ambientais, aumentando seu risco.
            Fatores hormonais externos como anticoncepcionais e terapia de reposição (TRH) também estão relacionados, principalmente se empregados na pós-menopausa. Em 2003, com os resultados do Estudo WHI nos EUA, que demonstraram um aumento de 40% do risco relativo de desenvolvimento do câncer de mama em usuárias de TRH, houve um declínio significativo de seu uso. Desde então o Instituto nacional do Câncer dos EUA (NCI) observou um decréscimo da  sua incidencia, que comprova esta associação.
            A grande arma que dispomos para combater esta ameaça à mulher é a prevenção e o diagnóstico precoce. A prevenção requer um estilo de vida saudável com dieta balanceada, controle ponderal, e prática de exercícios físicos regulares. Novos medicamentos como os Moduladores Seletivos de Receptores Hormonais ( SERMs) foram recentemente aprovados pelo FDA (EUA) eANVISA ( Brasil) como substâncias capazes de reduzir em até 60% o câncer de mama em mulheres na pós-menopausa. Discute-se a indicação de mastectomia profilática e mesmo a remoção de ovários em mulheres de alto risco com mutações genéticas BRCA1 e BRCA2, mas esta decisão deve ser analisada por uma equipe interdisciplinar com mastologista, cirurgião plástico, geneticista, oncologista e psicólogo.
            Os métodos de imagem mamografia, ultra-sonografia e ressonancia magnética possibilitam diagnosticos cada vez mais precoces e consequentemente melhores resultados com maiores chances de cura. Mesmo em países desenvolvidos, como o Japão, o percentual de mulheres que seguem um programa de controle periódico com auto-exame das mamas, exame clínico e mamografia é baixo. No Brasil há    mamógrafos em 9% dos municipios municípios e estima-se que apenas 25% da população esteja coberta por programa efetivo de prevenção.
            A industrialização e urbanização brasileira trouxeram um aumento da incidência do câncer de mama. É muito importante que a sociedade atavés do governo, empresas privadas, ONGs e grupos de saúde promovam contínuo programa de educação comunitária e ofereçam à população condições de diagnóstico e tratamento adequado. Esta preocupação tem importância não só humanitária, mas também economica, considerando que aumenta cada vez mais o papel da mulher como chefe de família e participação no mercado de trabalho.
O diagnóstico tardio do câncer de mama leva a tratamento mais mutiladores, onerosos e com resultados precários levando muitas mães a morte precoce e evitável, deixando, em suas famílias, um vazio irreparável.


Maurício Magalhães Costa
Mestre e Doutor em Ginecologia pela UFRJ
Chefe do Setor de Oncologia Ginecológica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ
Membro do Board of Directors da American Society of Breast Disease e da Senologic International Society